quinta-feira, 4 de junho de 2020

Farol do Bugio: o Forte à entrada do Rio Tejo

Já há muito tempo que andávamos a pensar em fazer uma visita ao Farol do Bugio mas após umas pesquisas sobre o assunto, percebemos que visitá-lo não era algo assim tão fácil. Poderíamos alugar um barco, ou comprar um passeio numa empresa de turismo, mas isso significaria ir de barco até ao farol, dar a volta ao mesmo e regressar a terra sem percorrer o seu interior. Conseguimos perceber que anualmente, durante duas manhãs, a Associação Espaço Memória, em parceria com a junta de freguesia da zona e a empresa Water X, para as viagens, realiza um passeio de barco ao farol mas com possibilidade de entrada no interior do mesmo. A visita é acompanhada por Joaquim Boiça, presidente da Associação, historiador e especialista em fortes e faróis de Portugal.

Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography 

Em 2016 quando percebemos as datas disponíveis (30 de julho e 6 de agosto – da parte da manhã), resolvemos entrar em contacto com a União de Freguesias de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias, e perceber como podíamos fazer a inscrição: esta foi feita através de email, com indicação do número (e nomes) de pessoas a inscrever, o dia escolhido e o horário que pretendíamos. Posteriormente dirigimos-nos às instalações da junta para confirmar a inscrição, efetuar o pagamento e garantir a nossa vaga no passeio. Após o pagamento informaram-nos das horas a que deveríamos estar no cais de embarque do Porto de Recreio de Oeiras.

Preço: €25/pessoa

As visitas são feitas apenas da parte da manhã (creio que tem a ver com autorizações da marinha e os horários das marés) e os embarques de hora em hora. Antes da hora combinada estávamos no local, confirmamos que os nossos nomes estavam na lista, deram-nos uma t-shirt com o nome do evento e indicação do nome da empresa que ia fazer o transporte entre o cais e o farol, e vice-versa, e lá fomos nós para a porta que nos ia levar até ao barco semirrígido e daqui até ao Farol do Bugio. Apesar do tempo cinzento o rio estava relativamente calmo e a viagem foi pacífica, tanto na ida como no regresso.

Os semirrígidos que nos transportaram ao Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography 
O Farol ao fundo (2016), by Sérgio Piçarra Piçarra Photography
Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography

Ao chegar ao farol, desembarcamos, fomos em direção ao seu interior e aguardamos que a visita anterior fosse terminada, para dar início à nossa. O passeio vale a pena pela história do local, pelo sítio em si (embora o seu interior se encontre bastante degradado), pela vista sobre a cidade de Lisboa noutra perspetiva e por estarmos no meio do rio Tejo, num edifício que em tempos serviu para proteger a cidade contra invasões e ataques de outros povos e para alumiar quem vinha (e ainda vem) por bem. O nosso guia tinha um conhecimento profundo sobre este local, ou não fosse ele filho, neto e bisneto de faroleiros e ter passado uma parte da sua vida neste farol, enquanto o seu pai foi faroleiro e ali esteve de serviço.

Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Terraço do Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Vistas do Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography

Conselho: pelo que percebemos é sempre bom tentar ir nos primeiros grupos porque a conversa é como as cerejas e as visitas têm tendência a atrasar-se, ou porque demoram um pouco mais na explicação ou a responder a dúvidas e questões que os visitantes possam ter, ou porque depois das visitas as pessoas gostam de dar uma volta por lá e tirar umas fotos e isso faz com que o barco se atrase para trazer o grupo seguinte. A partir de certa altura já não percebemos quem é ou não do nosso grupo e o que interessa é encher o barco para o regresso ao cais de embarque. Quanto mais tarde chegarem ao farol, menos tempo têm para aproveitar o passeio e as explicações, porque a partir de certa hora é necessário mesmo voltar a terra por causa das marés.

Um pouco da história do Farol do Bugio ou Forte de São Lourenço da Cabeça Seca

Localizado a meio da foz do Rio Tejo, entre a Trafaria e Oeiras, começou a ser construído no início do século XVI com o intuito de proteger o acesso à cidade de Lisboa através do rio. A construção inicial foi toda em madeira, erguida também em estacas do mesmo material, mas devido à instabilidade do banco de areia onde estava construído, à ação das correntes e das marés e a fragilidade do material de construção, fez com que a sua durabilidade fosse comprometida. No reinado de D. Filipe I começou a construção do farol em pedra e no reinado de D. João IV a obra passou a ser comandada por portugueses, tendo sido concluída a construção em 1657.

Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Sendo visto bem ao longe o Bugio tem uma base circular com 62 metros de diâmetro por seis metros de altura. O forte em si tem 33 metros de diâmetro por sete de altura. É composto por dois pisos separados por uma moldura, pelos quais se distribuem oito divisões onde, em 1820, se albergaram 50 soldados, tenentes e sargentos, destacados na época para defender a costa da cidade de Lisboa.

Tem ainda uma capela, situada no primeiro piso, que em tempos foi ponto de romarias religiosas e pagamentos de promessas. Hoje em dia, embora ainda se consigam visualizar algumas características do seu tempo de construção, como o mármore incrustado entre tetos e paredes forradas a madeira, vê-se muito mais a degradação e desgaste do tempo.

Capela do Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
No centro da Praça de Armas vê-se erguido o farol, que se encontra ligado ao terraço por três arcos em pedra e com um varandim de ferro, ao qual se pode aceder pelo terraço.

Praça de Armas do Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Vista para a Praça de Armas do Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography

Com o interesse militar reduzido em 1945 o forte foi desarmado, ficando apenas como sinalizador marítimo. Passou a ser imóvel de interesse público em 1957, sofrendo, ao longo dos anos seguintes, de algumas intervenções de consolidação, reparo e conservação. As últimas obras foram entre 1996 e 2000 após a queda de algumas paredes exteriores, ficando apenas as pedras originais, mandadas colocar por D. João IV, na parte que está protegida das ondas e das tempestades.

Hoje em dia serve de farol de apoio à navegação.

Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography
Farol do Bugio (2016), by Sérgio Piçarra Photography

Nota: O valor indicado é referente a 2016. Deverá sempre confirmar com a Associação ou com a Junta de Freguesia o valor atual.


2 comentários:

  1. Grata pela informação. Desconhecia completamente a história desse local, apesar de o ver praticamente todos os dias ao longo de 40 anos.

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    1. Olá flor de lótus! Obrigada pelo comentário :). Nós também desconhecíamos uma boa parte da mesma até irmos fazer a visita. Aconselho a fazê-la se tiver oportunidade. É uma experiência única, narrada por alguém que viveu no local e que tem muito conhecimento sobre o mesmo :)

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