Já há muito tempo que andávamos a
pensar em fazer uma visita ao Farol do Bugio mas após umas pesquisas sobre o
assunto, percebemos que visitá-lo não era algo assim tão fácil. Poderíamos
alugar um barco, ou comprar um passeio numa empresa de turismo, mas isso significaria
ir de barco até ao farol, dar a volta ao mesmo e regressar a terra sem percorrer
o seu interior. Conseguimos perceber que anualmente, durante duas manhãs, a
Associação Espaço Memória, em parceria
com a junta de freguesia da zona e a empresa Water X, para as viagens, realiza
um passeio de barco ao farol mas com possibilidade de entrada no interior do
mesmo. A visita é acompanhada por Joaquim Boiça, presidente da Associação, historiador
e especialista em fortes e faróis de Portugal.
Em 2016 quando percebemos as
datas disponíveis (30 de julho e 6 de agosto – da parte da manhã), resolvemos
entrar em contacto com a União de Freguesias de Oeiras e São Julião da Barra,
Paço de Arcos e Caxias, e perceber como podíamos fazer a inscrição: esta foi
feita através de email, com indicação
do número (e nomes) de pessoas a inscrever, o dia escolhido e o horário que
pretendíamos. Posteriormente dirigimos-nos às instalações da junta para
confirmar a inscrição, efetuar o pagamento e garantir a nossa vaga no passeio.
Após o pagamento informaram-nos das horas a que deveríamos estar no cais de
embarque do Porto de Recreio de Oeiras.
Preço: €25/pessoa
As visitas são feitas apenas da
parte da manhã (creio que tem a ver com autorizações da marinha e os horários das
marés) e os embarques de hora em hora. Antes da hora combinada estávamos no
local, confirmamos que os nossos nomes estavam na lista, deram-nos uma t-shirt
com o nome do evento e indicação do nome da empresa que ia fazer o transporte
entre o cais e o farol, e vice-versa, e lá fomos nós para a porta que nos ia
levar até ao barco semirrígido e daqui até ao Farol do Bugio. Apesar do tempo cinzento
o rio estava relativamente calmo e a viagem foi pacífica, tanto na ida como no
regresso.
Ao chegar ao farol,
desembarcamos, fomos em direção ao seu interior e aguardamos que a visita
anterior fosse terminada, para dar início à nossa. O passeio vale a pena pela história
do local, pelo sítio em si (embora o seu interior se encontre bastante
degradado), pela vista sobre a cidade de Lisboa noutra perspetiva e por
estarmos no meio do rio Tejo, num edifício que em tempos serviu para proteger a
cidade contra invasões e ataques de outros povos e para alumiar quem vinha (e
ainda vem) por bem. O nosso guia tinha um conhecimento profundo sobre este
local, ou não fosse ele filho, neto e bisneto de faroleiros e ter passado uma
parte da sua vida neste farol, enquanto o seu pai foi faroleiro e ali esteve de
serviço.
Conselho: pelo que percebemos é sempre bom tentar ir nos primeiros
grupos porque a conversa é como as cerejas e as visitas têm tendência a
atrasar-se, ou porque demoram um pouco mais na explicação ou a responder a
dúvidas e questões que os visitantes possam ter, ou porque depois das visitas
as pessoas gostam de dar uma volta por lá e tirar umas fotos e isso faz com que
o barco se atrase para trazer o grupo seguinte. A partir de certa altura já não
percebemos quem é ou não do nosso grupo e o que interessa é encher o barco para
o regresso ao cais de embarque. Quanto mais tarde chegarem ao farol, menos
tempo têm para aproveitar o passeio e as explicações, porque a partir de certa
hora é necessário mesmo voltar a terra por causa das marés.
Um pouco da história do Farol
do Bugio ou Forte de São Lourenço da Cabeça Seca
Localizado a meio da foz do Rio
Tejo, entre a Trafaria e Oeiras, começou a ser construído no início do século
XVI com o intuito de proteger o acesso à cidade de Lisboa através do rio. A construção
inicial foi toda em madeira, erguida também em estacas do mesmo material, mas
devido à instabilidade do banco de areia onde estava construído, à ação das correntes
e das marés e a fragilidade do material de construção, fez com que a sua durabilidade
fosse comprometida. No reinado de D. Filipe I começou a construção do farol em
pedra e no reinado de D. João IV a obra passou a ser comandada por portugueses,
tendo sido concluída a construção em 1657.
Sendo visto bem ao longe o Bugio
tem uma base circular com 62 metros de diâmetro por seis metros de altura. O
forte em si tem 33 metros de diâmetro por sete de altura. É composto por dois
pisos separados por uma moldura, pelos quais se distribuem oito divisões onde,
em 1820, se albergaram 50 soldados, tenentes e sargentos, destacados na época
para defender a costa da cidade de Lisboa.
Tem ainda uma capela, situada no
primeiro piso, que em tempos foi ponto de romarias religiosas e pagamentos de
promessas. Hoje em dia, embora ainda se consigam visualizar algumas
características do seu tempo de construção, como o mármore incrustado entre
tetos e paredes forradas a madeira, vê-se muito mais a degradação e desgaste do
tempo.
No centro da Praça de Armas vê-se
erguido o farol, que se encontra ligado ao terraço por três arcos em pedra e
com um varandim de ferro, ao qual se pode aceder pelo terraço.
Com o interesse militar reduzido
em 1945 o forte foi desarmado, ficando apenas como sinalizador marítimo. Passou
a ser imóvel de interesse público em 1957, sofrendo, ao longo dos anos
seguintes, de algumas intervenções de consolidação, reparo e conservação. As
últimas obras foram entre 1996 e 2000 após a queda de algumas paredes
exteriores, ficando apenas as pedras originais, mandadas colocar por D. João
IV, na parte que está protegida das ondas e das tempestades.
Hoje em dia serve de farol de
apoio à navegação.
Nota: O valor indicado é referente a 2016. Deverá sempre confirmar com a Associação ou com a Junta de Freguesia o valor atual.
Grata pela informação. Desconhecia completamente a história desse local, apesar de o ver praticamente todos os dias ao longo de 40 anos.
ResponderEliminarOlá flor de lótus! Obrigada pelo comentário :). Nós também desconhecíamos uma boa parte da mesma até irmos fazer a visita. Aconselho a fazê-la se tiver oportunidade. É uma experiência única, narrada por alguém que viveu no local e que tem muito conhecimento sobre o mesmo :)
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