Da minha janela... |
Esta casa conquistou-nos quando a
visitamos pela primeira vez. A luz que percebemos que tinha (e ainda tem) e o
magnífico terraço que a acaba de compor foram dois pontos-chave para a
comprarmos. Com janelas grandes em todas as divisões deixa-nos olhar lá para
fora sem a sensação de estarmos presos entre quatro paredes.
Da minha janela, junto à qual me
sento todos os dias para trabalhar, vejo essencialmente o verde das árvores.
Parece que floresceram de um dia para o outro. Lembro-me de, no início do
isolamento social, ainda estarem meio despidas de folhas e permitirem ver os
terraços dos prédios em frente e as varandas. Agora, repletas de folhas,
dão-nos uma sensação de privacidade maior (embora alguns vizinhos nos consigam
ver quando andamos lá fora).
Da minha janela vejo o canteiro
dos morangos, feito carinhosamente pelos nossos pais pouco depois de nos
mudarmos para cá (ideias minhas pois claro). Vejo os melros a poisarem no muro
do terraço, todos pretos com o seu bico laranja. Por vezes, parecem
empedernidos a olhar para os morangos, mas arranjamos maneira de os afastar sem
estar sempre a correr lá para fora (uma calhar elétrica e CDs velhos fazem um
bom espantalho). Vejo o sol a brilhar, o céu completamente azul e pássaros a
voar de árvore em árvore (devem haver vários ninhos na espécie de pinheiro que
temos mesmo em frente). Ouvimos também o seu chilrear constante, como se de
música se tratasse. Parecem-me mais ariscos também, agora que tem havido menos
pessoas na rua. Antes do confinamento também ouvíamos as crianças da creche que
existe no prédio ao fundo da rua, som esse que agora só se ouve ao final da
tarde, quando os pais terminam os seus trabalhos e saem com os filhos para um
passeio aqui na urbanização.
Está a chegar a hora de almoço e,
da minha janela, começo a ver mais movimento em algumas varandas com as mesas a
serem preparadas para a refeição em família. Ouve-se agora o barulho dos
talheres e dos pratos batidos uns nos outros e o burburinho de crianças. Se
houve alguma coisa boa nestes tempos foi trazer vida às casas, às varandas e
terraços e, provavelmente, às pessoas que lá moram. Pergunto-me se, quando a
pandemia passar, continuarei a ver vida nestas varandas, outrora vazias de pessoas
mas mobiladas para ninguém as usar. Pergunto-me se vou continuar a ouvir o
cantar dos pássaros com a mesma intensidade. E pergunto-me se vou continuar a
ouvir o som dos talheres e dos pratos para as refeições de família… tudo isto a
partir da minha janela!
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